Apresentação
Olá, eu sou Jorginho Ibrahim, e minha história mistura jornalismo, Carnaval e muito samba no pé. Já fui colunista no início do site Carnaval de Campos, ajudando a contar e registrar a festa mais colorida da cidade. Também tive a honra de ser vice-presidente da União dos Blocos de Samba de Campos, onde aprendi que organizar Carnaval é quase tão emocionante quanto desfilar. Ah, e ainda tive a oportunidade de julgar os tradicionais desfiles dos bois-pintadinhos e blocos de samba de Campos (sim, é um privilégio e uma responsabilidade enorme!). Sou apaixonado por Cultura Popular e por contar histórias — seja na avenida ou fora dela. Hoje resido no Espírito Santo, onde o Carnaval é tão apaixonante quanto o nosso Carnaval de Campos. Vou contar para vocês um pouco do Carnaval capixaba.
Do surdo ao silêncio: o Carnaval de Vitória entre o brilho e os bastidores
O vento que traz samba e sal
O vento que sopra da Baía de Vitória no Carnaval não é o mesmo de qualquer outro dia. Ele traz sal, purpurina e o grave do surdo, que atravessa as ruas, bate no peito e obriga o corpo a dançar, mesmo que discretamente. No Sambão do Povo, arquibancadas viram mundos à parte: famílias inteiras pintadas de glitter, foliões que se conhecem desde os primeiros ensaios, turistas que descobrem que, aqui, a festa tem sabor de moqueca e cheiro de mar.
Entre campeões e memórias vivas
Este ano, a Independente de Boa Vista fez jus à fama e cravou seu heptacampeonato. Homenageando Sebastião Salgado, a escola transformou a avenida num álbum vivo de fotografias: imagens que pareciam sair das alegorias e ganhar movimento. Foi técnica, mas também foi emoção. A Chegou O Que Faltava mostrou que Goiabeiras não é só panela de barro — é identidade, resistência e criatividade. E a Andaraí, no Acesso, trouxe o Mercado da Capixaba com suas cores, sons e memórias, arrebatando corações e garantindo o retorno ao Grupo Especial.
O outro lado do confete
Mas, para além das luzes e confetes, os bastidores contam outra história. Muitas escolas ainda sofrem com patrocínios insuficientes e verbas públicas que chegam tarde. Há carnavalescos improvisando com material reciclado, costureiras virando noites para entregar fantasias e comunidades que fazem vaquinha para não deixar o samba morrer. No Acesso, a falta de estrutura é ainda mais evidente: menos recursos, menos mídia e a mesma paixão. Nos blocos de rua, a alegria é democrática, mas a organização nem sempre acompanha. Banheiros insuficientes, limpeza demorada e segurança limitada ainda são problemas. E quando se compara a grandiosidade cultural do evento com a pouca projeção nacional que ele recebe, fica claro que falta planejamento estratégico para transformar o Carnaval de Vitória num produto turístico de peso. Mesmo assim, quando o primeiro surdo bate, tudo muda. É como se cada capixaba soubesse de cor o que fazer: desfilar, cantar, dançar. Porque o Carnaval daqui é isso — feito com o que se tem, carregado de história e temperado com paixão. E, no fim das contas, é essa paixão que mantém o brilho, mesmo quando as luzes se apagam e o Sambão do Povo volta ao silêncio!