II Seminário Junino da Lidanfoc e a pedagogia dos folguedos como guardiões da tradição e territórios de pertencimento
No último sábado, 17, a Academia Campista de Letras abriu suas portas para o II Seminário Junino de Campos dos Goytacazes, o qual foi realizado pela Liga de Danças Folclóricas do referido município, a Lidanfoc. O encontro foi uma ocasião mais que oportuna para reverenciar a alma viva da cultura popular, embasado na práxis dialética que fomenta o diálogo entre os saberes tradicionais e acadêmicos. Esta premissa sustenta-se em virtude da ilustre presença do Secretário Municipal de Educação, Marcelo Feres, e do célebre professor e pesquisador de Cultura Popular, Marcelo Sampaio, que brindaram o referido evento com reflexões potentes. Enquanto este explanou acerca da “História da Cultura Popular” – destacando a diferença entre o que é cultura de massa e cultura popular – aquele discursou sobre “O elo entre Educação e Cultura”, evidenciando o quão fundamental é que, em outras palavras, a escola valorize a gama de fios que tecem a identidade de um povo. Ambos, com suas falas generosas, trouxeram à tona a urgência de manter vivas as tradições, não como algo do passado, mas como expressão orgânica, contínua e dinâmica do e no presente. Uma das ideias mais marcantes do encontro foi a indissociabilidade entre cultura e educação. Cultura não é acessório da educação – é seu corpo, sua alma e sua linguagem. Levar a cultura popular para dentro das escolas é mais do que necessário: é ato de pertencimento, de enraizamento, de reconhecimento das vozes que cantam, dançam, bordam e contam histórias neste chão. O seminário também se configurou como preâmbulo para a temporada dos folguedos juninos, julinos, agostinos e, por que não, setembrinos, que se aproxima com seus arraiás, quadrilhas, cores, sabores e saberes compartilhados. Uma verdadeira celebração do espírito coletivo, da musicalidade dos encontros e da resistência festiva que encanta e pulsa em nossas tradições. É preciso, sim, preservar a Cultura Popular e garantir que ela adentre os portões escolares com a dignidade que merece. Que nossas crianças e jovens não apenas “vejam” as festas populares, mas as reconheçam como heranças vivas e como manifestações legítimas de um povo que outrora, mas também no tempo presente, apropria-se do próprio corpo como instrumento de expressão com o riso e com o ritmo; com a fé e com muita festa. Entre memórias, histórias, manifestações, resistências e quereres, o II Seminário Junino promovido pela Lidanfoc exprimiu a mensagem que celebrar também é aprender. E que a conjugação dos verbos aprender e celebrar, na prática, só faz sentido quando o chão que pavimenta o caminho percorrido pelos sujeitos envolvidos é feito de afeto, saberes e partilha.
Nota da Semana
No próximo dia 22 iniciar-se-á o projeto artístico-cultural da Cafeteria Mandy em parceria com o Centro Cultural Marcelo Sampaio, intitulado “Notas em Café”, às 19h, na Rua Marcílio Dias, nº 29 – final da Avenida Pelinca. A cada encontro mensal o pesquisador de Cultura Popular, professor Marcelo Sampaio, estará na direção de um espetáculo lítero-musical e nesta primeira edição, o “Especial Chico Buarque” será brindado com o violão e voz do músico Marcelo Ribeiro e participação especial desta colunista que, além de escrever, também permite-se a aventura de cantar!
“Fantasias Textuais”
“Não se curem além da conta. Gente curada demais é gente chata. Todo mundo tem um pouco de loucura. Vou lhes fazer um pedido: Vivam a imaginação, pois ela é a nossa realidade mais profunda. […] É necessário se espantar, se indignar e se contagiar, só assim é possível mudar a realidade…” Nise da Silveira, médica psiquiatra pioneira na defesa do tratamento humanizado para pacientes com transtornos mentais.