Violão que produz Choro também sorri e produz Samba: O solo do campista que faz a Holanda sambar
Que Choro e Samba são gêneros musicais brasileiros que mantêm uma co-relação entre si, não há dúvidas. E que ambas as vertentes musicais convergem quando o assunto é conferir valor à cultura e identidade popular nacional, não há imbróglios. Foi num clima intimista que a complexidade melódica do estilo musical conhecido carinhosamente pela alcunha “Chorinho” confluiu com o Samba e ambos os gêneros formaram a espinha dorsal da apresentação intitulada “Solo”, marcada pelo quilate das cordas do violão e voz de Rogério Bicudo, artista que se apresentou na noite do último sábado, em duas sessões, na Casa de Cultura Villa Maria, situada no quadrilátero histórico mais charmoso e bucólico da planície Goitacá. O músico entregou um repertório para lá de especial, composto por canções autorais e outros clássicos da Música Popular Brasileira. O público, nitidamente ávido por música de qualidade, agradou-se sobremaneira e aliou sua voz à do artista, formando assim um uníssono coral que entoou clássicos de Zé Keti, Paulinho da Viola e Chico Buarque. Em recente entrevista ao professor Marcelo Sampaio, Rogério Bicudo disse que sua relação com o universo musical deu-se ainda na infância e com seu talento nato, a partir dos doze anos passou a apresentar-se como músico profissional. Mudou-se para o Rio de Janeiro em busca de aprimoramento e, posteriormente, alçou novos voos rumo a terras estrangeiras sempre em busca de conhecimentos na área profissional e desenvolvimento artístico. Vive há mais de três décadas no exterior e é dono de um currículo de respeito! Aliás, respeito é um valor inestimável que só é capaz de oferecer quem o tem. Um artista do quilate de Rogério Bicudo merece as mais dignas e merecidas deferências. Seus conterrâneos, admiradores e fãs estenderiam-lhe o tapete vermelho e, certamente, o indicariam ao Oscar se assim pudessem. Decerto, uma cidade cujos governos são incapazes de reconhecer o valor cultural imaterial dos artistas gerados no ventre da própria terra corre o iminente risco de, a longo prazo, perder a identidade com aquilo que lhe é pertencente, submetendo-se ao não reconhecimento de si no outro que é parte importante da tradição e memória viva. Salve os artistas da planície campista! Salve Rogério Bicudo!
Nota da Semana
O ano era 2005 e o medo, solidão, desilusão, indiferença e insegurança eram condições reais assim como permanece sendo vinte anos depois, uma vez que são inerentes ao ser humano. Estou me referindo ao filme nacional “Vitória”, um drama demasiadamente humano que está em cartaz nas principais salas de cinema, protagonizado pela imparável Fernanda Montenegro que retrata a coragem de dona Nina, testemunha ocular que da janela do seu apartamento presencia a voracidade do crime organizado engolindo pessoas de seu convívio e que ao lado do multitalentoso Alan Rocha leva-nos a sentir a profundidade da narrativa do filme que é sobre esperança.
“Fantasias Textuais”
“Ela desatinou, viu chegar quarta-feira
Acabar brincadeira, bandeiras se desmanchando
E ela ainda está sambando
Ela desatinou, viu morrer alegrias, rasgar fantasias
Os dias sem sol raiando
E ela ainda está sambando…” Trecho da canção “Ela desatinou”, de Chico Buarque, 1968.
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Um presente para Campos.