“TRAGO NA MALA BASTANTE SAUDADE”
“Minha vida é andar por este país, guardando as recordações, das terras onde passei” – A Vida Do Viajante, do grande mestre Luiz Gonzaga. Após alguns dias desbravando tudo de melhor do nordeste brasileiro, definitivamente retorno ao meu aconchego “trazendo na mala bastante saudade”.
Quem diz que o Nordeste é terra somente do forró, se engana e muito. Por ali, temos uma vasta produção literária com Jorge Amado na Bahia, Graciliano Ramos em Alagoas, Ariano Suassuna em Pernambuco, Rachel de Queiroz no Ceará, que certamente faz desse país uma mistura de arte, cor, cheiros, e o gosto temperado dos temperos dos amô.
Diga-se de passagem, que foram dias incríveis, inesquecíveis e históricos. Da passagem por Pernambuco, iniciada caminhada pelos arredores de Porto de Galinhas (PE) e Maragogi (AL), sem dúvida alguma, um cenário paradisíaco com suas piscinas naturais formadas por recifes de corais, atraindo turistas de todas as partes do mundo. As águas mornas e transparentes proporcionando uma experiência única de mergulho, mesmo com tempo chuvoso, permitindo uma proximidade incrível com a vida marinha local no conhecido “caribe brasileiro”, tesouro a ser explorado por quem busca sol, mar e momentos inesquecíveis.
Muito além de Praia, a capital pernambucana também oferece muita arte e sabores. Lembro com saudosismo o caminhar na feirinha do artesanato de Boa Viagem, o encontro na praça Marco Zero com a sombrinha do frevo, o saboroso conhaque de São João da Barra (RJ) que até milagre faz, o caminhar na praia de Piedade, município de Jaboatão dos Guararapes (PE), conhecida pela presença de tubarão, tornando uma praia morta, sem acesso a faixa de areia e mar aberto. Diz a lenda do tubarão que: “você veio e não te encontrei, te espero na próxima”.
Caminhando um pouco mais, sempre na brilhante companhia de meu sócio, Adilson Lucas, no município de Olinda chegamos, e claro, um dia deslumbrante de visitações e muito bom papo. De frente a Igreja da Sé, entre papo e fotos assistíamos o transpassar do tempo e os turistas franceses no seu linguajar enrolado, ao som de musiquinhas de frevo, além da extraordinária visitação a casa dos Bonecos de Olinda, reverência no carnaval e da cultura brasileira.
E quem disse que termina por aqui! Ahhh, até as bençãos de Dom Helder Câmara fomos buscar na Igreja da Sé, cujo murmurinho dos guias é que será o próximo Santo Brasileiro a ser reconhecido pelo Vaticano, pelo modelo de santidade, na luta pela dignidade dos pobres, na vida de oração, na humildade e sabedoria.
Claro, é de se observar e muito a pequena Olinda, referendada entre o século XVI e as primeiras décadas do século XVII como uma “Lisboa pequena”, dada a opulência só comparável à da Corte portuguesa.
E por falar em Nordeste, mês de junho, indispensável não reviver o maior espetáculo colorido em comemoração ao tempo de fartura, colheita, saudando os santos juninos, na mistura única de ritmos, sabores, festas e expressões artísticas. Em meio a essa riqueza cultural, as danças de quadrilha, o forró pé de serra emerge como um verdadeiro tesouro, transmitindo a identidade através de sua música contagiante.
Afinal, estamos na terra de Luiz Gonzaga, Elba Ramalho, Flávio José, Alceu Valença, e tantos outros ícones, cujo forró composto pela sanfona, zabumba e triângulo, jamais será esquecido, convidando para uma dança colada e cheia de energia, retratando histórias de amor, saudade, alegria e desafios enfrentados pelo povo nordestino.
Abre espaço no Pátio de Eventos para o forró tradicional ligado às festas juninas, que tive a grande alegria de viver em agradabilíssima companhia, a abertura triunfal do São João de Caruaru (PE), cuja cidade inteira assiste o céu estrelado com balões e bandeirinhas coloridas, acendem fogueiras e se entregam aos passos animados do forró.
Mas afinal, há um questionamento que fiz a alguns caruaruense: qual é o maior São João do Brasil, o de Caruaru (PE) ou de Campina Grande (PB)?
É claro que a rivalidade só faz crescer o interesse pela festa, em perfeita comunhão e homenagem os santos católicos: Santo Antônio (13/06), São João (24/06) e São Pedro (29/06). A verdade é que não importa qual é o maior, o intuito é valorizar a cultura nordestina, perpetuar as tradições juninas e se divertir a valer!
Ao mergulharmos na magia do artesanato, culinária, forró e muita quadrilha, abraçamos a essência do Nordeste, nos conectamos com suas tradições e nos encantamos com a energia contagiante dessa cultura única. Que o forró tradicional de “Gonzagão” continue a embalar corações e a celebrar a riqueza da cultura nordestina, mantendo viva sua chama por muitas gerações vindouras.
Juntos, cantemos sempre “São João! São João! Acende a fogueira no meu coração”.
Viva o Nordeste! Viva São João!
Rafael Gama, entusiasta do Carnaval.