O carnavalesco Renato Lage com o enredo “Voltando para o futuro, não há limites pra sonhar”, criado em parceria com a sua recém falecida mulher Márcia Lage, recriou a Mocidade Independente de Padre Miguel.
Foi um desfile com aquela sofisticação estética, marca característica dos seus trabalhos, no qual destacou-se uma contundente crítica à desumanização do mundo.
A verde-e-branco da Zona Oeste carioca fez jus ao refrão do seu samba “O céu vai clarear, Iluminar a Zona Oeste da cidade, E Deus vai desfilar, Pra ver o mago recriar a Mocidade”!
Comentário da Eliane Gentile:
“A Mocidade Independente de Padre Miguel pisou na Avenida Marquês de Sapucaí contestando as fronteiras da inovação tecnológica com o enredo ‘Voltando para o futuro, não há limites pra sonhar’. Com exuberância estética e alegorias futuristas a escola fez um alerta quanto à necessidade de o Homem repensar a relação com as tecnologias e buscar o ponto de equilíbrio para evitar os excessos e não se deixar dominar pelo mundo digital, desconectando-se do real e das relações intra e interpessoal. Um ponto alto do cortejo foi a crítica presente nas alegorias, trazendo a presença do Pierrot, tradicional figura do Carnaval, acompanhado de astronautas que aludem ao cosmofuturismo fazendo uma correlação com o verso do samba-enredo que questiona o Carnaval do amanhã: ‘O homem com sua ambição desconhece a razão, desatina a ciência, será que há de ter Carnaval sem minha cadência?’. Ainda problematizou a ação humana de degradação da natureza, sugerindo uma reflexão acerca das consequências sócio ambientais no futuro próximo, através de outro verso: ‘O verde adoecido da esperança ofega sobre o leito da cobiça’. Com primor e compromisso social a agremiação conclamou a Humanidade a um exame de consciência para reinvenção do presente com vistas no futuro para uma ética biofílica, isto é, de amor à vida como um todo”.