“Cão sem plumas”: Dança que dá voz ao clamor dos invisíveis
Ao assistir o espetáculo da Companhia de dança Deborah Colker, “Cão sem plumas”, que é uma adaptação do poema de João Cabral de Melo Neto, fui atravessada pela intensidade dos sentires, no plural mesmo que é para denotar a quase totalidade dos sentidos acessados e a gama de sentimentos suscitados ao longo dos setenta minutos de apresentação. No palco do Teatro Municipal Trianon, em Campos dos Goytacazes, na última semana catorze bailarinos inteiramente entregues apresentaram uma performance precisa, expressiva e irretocável de movimentos síncronos de dança associados à arte cinematográfica. A partir de imagens projetadas no fundo do palco a aridez estática do agreste contrastou com os movimentos sinuosos de corpos enlamaçados e assim, ambos se amalgamavam expressando um profundo diálogo sobre a potência e ambivalência da dualidade da vida. A tônica do espetáculo pareceu-me está contida no enlace entre a performance no palco em tempo real e as cenas reproduzidas no filme, resultando numa conversa harmoniosa entre a imagética e a corporeidade, pois ambas as linguagens tornam-se facilmente confundíveis, tendo em vista que em dados momentos ocorre uma simbiose perfeita, a ponto de instigar o público a decifrar onde é que inicia o filme e termina a performance dos corpos presentes no espaço e vice-versa, corpos esses que se aglutinam à cenografia e contracenam com tiras de tecidos e caixas cinematográficas, onde estas fazem referência às palafitas que são habitações comuns aos povos ribeirinhos e aquelas aludem aos canaviais sertanejos. Deborah Colker idealizou com agudeza o espetáculo “Cão sem plumas” reunindo dança, literatura, cinema e música para transmitir a força e resiliência daqueles que são considerados os invisíveis da sociedade, mas que com uma força invencível se contorcem para sobreviver e transformar as próprias dores e tragédias humanas em arte e resistência.
Nota da Semana
Em uma sociedade onde o estresse e a ansiedade parecem ser constantes no dia a dia, a busca por alternativas que promovam o equilíbrio emocional nunca foi tão necessária. A Arteterapia é um processo que vai além da estética ou da habilidade artística, é uma das Práticas Integrativas Complementares em Saúde e permite a expressão de emoções de forma não verbal, proporcionando alívio e autoconhecimento para canalizar sentimentos reprimidos, aliviar tensões e até ressignificar traumas. Estudos comprovam que a prática estimula áreas do cérebro ligadas ao prazer e à memória, além de reduzir os níveis de cortisol, hormônio associado ao estresse. Isso explica por que tantas instituições de saúde mental adotam a Arteterapia como parte de seus tratamentos, ajudando pacientes com ansiedade, depressão e até transtornos mais complexos. A boa notícia? Não é preciso ser artista para se beneficiar. Basta permitir-se experimentar e deixar fluir a expressividade dos conteúdos inconscientes.