Do triunfo da Beija-Flor à gloriosa estreia de uma colunista: Uma explosão de confetes e serpentinas!
Neste ano, a Beija-Flor foi a grande campeã do Carnaval carioca e considero ter sido esse um título digno por dois motivos: pelo enredo potente que homenageou o diretor de Carnaval Laíla, ícone que esteve à frente da escola por décadas e em muito contribuiu para elevá-la no cenário carnavalesco e pela ousadia de trazer o Cristo preto de “Ratos e urubus, larguem minha fantasia”, censurado no Carnaval de 1989 e que desta vez, de forma não menos ousada, inovou ao ostentar uma faixa virada que gerou polêmica, já que transgrediu a ordem que dita como as coisas devem ser. De forma muito original a curiosidade foi despertada e esse detalhe da virada pareceu-me intencional e uma oportuna referência à proposta do enredo que sugere que o humano Laíla após ter “virado” um orixá recebe de sua escola o pedido de proteção e bênção através da mensagem: “Do Orum, olhai por nós”. Ainda sobre o Carnaval 2025, desta feita aceitei o convite e caí na folia discorrendo minhas impressões acerca dos desfiles e essa experiência oportunizou-me observar tal comemoração de forma mais ampliada. Hoje, concebo o Carnaval como a metáfora do povo no cerne do protagonismo, os atores sociais que realizam suas próprias ilusões inventadas e as sustentam por cinco dias ininterruptos, evocando a liberdade para protestar contra estruturas excludentes e de opressão, usando seus próprios corpos como territórios de expressão subversiva que ao comunicar leveza, humor, luxo, sedução e excessos propõem-se a denunciar as chagas da intolerância, preconceito, transfobia, racismo, falso moralismo e tantas outras mazelas que o sistema e seus aparelhos ideológicos de Estado insistem silenciar e fingir não existir.
Nota da Semana
Está em cartaz nas principais salas de cinema a comédia nacional “Uma advogada brilhante”, que traz em seu elenco o humor e protagonismo do ator Leandro Hassum e participação de Ale McHaddo, que assina a direção do longa. A obra promete arrancar boas risadas por conter um humor leve e dinâmico, apesar da crítica social acerca dos inúmeros desafios que as mulheres enfrentam em uma sociedade, ainda, marcada pelo machismo e misoginia. É uma narrativa cômica e oportuna que, além de didática, vai emocionar a todos e dialogar especialmente com as mulheres que sentir-se-ão valorizadas, representadas e reconhecidas.
“Fantasias Textuais”
Na vida
Só se sustenta de pé quem pisa forte o chão
Pisa e anda agita a poeira
Relembra a ciranda da criança arteira
Sente a quentura do chão quando pisa
Na vida só se sustenta de pé
Quem faz subir a poeira pisa e dança
Alegre e brejeira
Toca o chão
Com a marcha faceira se alimenta de fé
E o pé pisa na areia.
“Pisa a poeira”, Eliane Gentile, 7 de novembro, Primavera de 2023.